Monday, January 09, 2012

nada leve (além do peso de que eu gostaria de ter escrito)

Nada leves, nem queiras ter
Mais do que as pombas, as minhocas
Ou o cachorro do vizinho.
Pensa só na insanidade
Que é ter:
Primeiro, pesa nos sentidos
E freia a imaginação;
Depois, o medo de perder.
Mais que tudo, a bobagem
Profunda de achar que tens:
Que vínculo é esse, absurdo,
Entre um ser vivo e um
Objeto inanimado?
Tens, por acaso, a tarde, o vento?
Este trecho de terra? Por quê?
Quando falas, ele responde?
Por que terás mais esse anel
Do que o ar, ou o Pão de Açúcar?
Medita um pouco no absurdo
Dessa fantasia que é ter,
Depois pensa que sequer tens
A ti, já que não te dominas.
Começa então a viver
A imensidão desta vida.


nada leves, do roberto marinho de azevedo, rio de janeiro, 1940-2003. jornalista e poeta, tornou-se mais conhecido como crítico gastronômico. sob o pseudônimo de apicius, assinou por 35 anos uma coluna no jornal do brasil( no tempo em que o j.b.era marca de jornal  de respeito e não de uísque falsificado) que, acima do gastronômico, era uma aula de escrita com rigor para os admiradores e horror para os diplomas  funcionais. só em 2006 sua identidade foi revelada .

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