Monday, March 26, 2018

auto-voragem ou retrato do artista(que já se chamou samambaia) enquanto pólen

dizem que já não usa mais cabelos e barba tão curtos assim. cresceram tanto que ele sumiu na paisagem

o ermitão urbano
se auto cognomina
aquele morador do final da rua
da casa que guarda mistérios
em antagônicos
sinais de riqueza e pobreza
na mais total enarmonia

ninguém sabe o que faz
desparafusado das ideias
quiçá pregado no seu tempo infuso? ou um sem noção ainda mais avariado?
freak? esotérico, excêntrico, ou apenas fazendo tipo? que raios tem na cabeça o sujeito?


o que habita o cérebro
e o corpo do ermitão urbano
para além da loucura de acreditar - mas apenas no que se deve -
recôndito das doenças vasculares
dos avêces contidos
das dê esses tês da sua geração
da psoríase contida
mas que escapuliu em dedos tortos
pela artrite psoriatica
minha nossa!
isso pega?
ainda cheio de hipertensão(tesão é outra coisa minha senhora)


que transita pelas ruas com se vivesse nos anos 70
um artista? talvez mais do que parece, mas só por causa do aspecto?
um zé ninguém? quase acertam,
papai noel! (é a puta que vos pariu!) atiçam escolares
 que nunca estão dentro da escola
mas convenhamos, de que adiantaria?

talvez simplesmente apenas mais um que caminha para o fim
como se ainda estivesse no começo
sem dar o braço a torcer diante de tais apertos

pois bem
daquele sujeito estranho
de olhos envidraçados
não espere vizinhança cumprimentos
menos ainda salamaleques
só cumprimenta gatos e cães de rua
abana a cabeça para as lagartixas
e guarda ainda olhares comovidos para um timbu fora do seu habitat
- talvez como ele próprio-
quando não batuca mentalmente com o pica-pau que teima em lhe destruir a aroeira
motivo de discórdia para com todos aqueles que não suportam o verde 
que teima em fruir por entre os espaços das cerâmicas 
que insistem em derramar-se sobre as calçadas
as quais ele evita
caminhando sempre pela rua
traçando a linha do percurso em paralelepípedos gonzos
meio metro fora da guia
mas longe do acting matusquela do nicholson

o que faz mesmo um sujeito assim
que sai pouco de si para os outros
e de casa para a rua ?

dizem que lê muito
seria a coelhada da literatura atual?
com aquela cara de quem os mata a cajadadas? convém duvidar. aliás tem cara de comunista; ateu; hippie(isto ainda existe?); viado. todo cabeludo é viado, isso não muda nunca, uma vez viado sempre viado, uma vez cabeludo, a calvície seria a cura gay?

talvez ouça ainda mais música
mas ninguém ouve
também pudera
o que toca em volta abafaria qualquer sonido que contivesse o que quer que seja parecido com música
que parece a verdadeira que só esta gosta ele de escutar
recluso no universo onde ninguém mais tem antenas para tal escuta
que se lhas tivessem ouviriam também madrugada adentro
o batuque do escrevinhador a tentar limpar o zinabre dos seus textos
sendo ele já o próprio

das letras para a sabedoria já não há pulos
nem por isso pode-se dizer mal educado
mas simpático também não
aliás
não faz questão de uma coisa nem outra
entre tantas questões que julga mais importantes
num tempo onde toda importância do mundo está restrita a um celular
onde tudo que é falso se torna verdadeiro
e o verdadeiro termina falseado

ah! o tempo dos isqueiros
que também pode chamar de vaga-lumes de homens e mulheres
consumidos por outros fogos de igual fatuidade

e por ser tão ligado em coisas mais importantes
não só para ele
decifram-no como desligado
que se esfinge fosse
pedralizava a todos
e certamente a vida seria melhor
(não só para ele)

mas o que se nomeia ermitão urbano
nem tão raso 
nem tão profundo
está mesmo é de saco cheio
das mesmas coisas de sempre
dos mesmos de sempre
da vida de sempre
da morte de sempre
que se repete em ciclos de
mediocridade
o que lhe apavora mais que qualquer coisa
até mesmo que de bala perdida
e intervenção militar

o ermitão urbano, ainda que tenha tomado alguns atalhos
 ainda caminha despreocupado em tão-somente ter
sim, porque que franciscano ele não é, que isso fique bem claro, como claro fique que ele não vai com as fuças de nenhum dos franciscos, nem do que eles representam 

o ermitão urbano 
tem apenas azáfama 
do que possa ser
no seu próprio caminhar
resistindo a tudo 
e a todos
até a ele mesmo 
a quem não pretende seguir ou ultrapassar.




No comments: