Tuesday, July 11, 2017

para muito além das sete vidas

gosto de devagar vagar as 

noites no escuro pela casa 

vazia


o silêncio em banho-maria 

ronrona aos gatos 

espalhados cômodos a 

dentro, aveludando a 

situação confortavelmente

cujo brilho contrasta ton sur ton


sem a companhia humana 

todo e qualquer espaço é imenso

e não há censuras - para as mentes privilegiadas, sequer auto-censura, que 

não é lá muito o meu caso, dizem os gatos com seus olhares "de profundis"


sem ecas, pego-me a assoar o nariz, muco à distância, longe da irritação da 

rinite, onde o fungado é quase disforme ronronado, de outros tecidos, 

precedendo o trajeto da "ranheta" rumo ao chão de mosaicos,

assaz quase soar de trombeta


gosto também, mas não me lambo, nem me lambuzo, apenas assoo e ressoo 

e gosto porque isso é matéria viva, que me faz gostar de saber que serei imortal

e gosto mais ainda porque sabedor que não fiz nada de imemorial - não escrevi 

livros, não fiz grandes feitos - apenas existi, existo, e existirei mil anos à fora 

ainda que seja à forra(uma náutica vingança?) mesmo que como muco, assim 

como a vida que seja átimo de voo entre o assoo o mosaico


e mesmo que ninguém o saiba - da minha imortalidade, e da minha fungada - 

sei que existi, existo e existirei, enquanto ranho da existência 

que, sabidamente, só os gatos sabem contemplar sem sobressaltos

2 comments:

11 said...

não dou liberdade pra minha alma contextualizar a tua poesia, admito a minha incapacidade. reconheço a minha ignorância no quesito da alma, inclusive. a minha presença raramente surge em alguma coisa.
a analogia excêntrica, a personalidade das palavras e a agradável ausência da rigidez das maiúsculas torna a leitura do seu blog, desde o início do meu acompanhamento curioso, um tapa.
uma verdadeira surra no meu ideal de quietude observadora

o ideal quis feriado. devo aproveitar o meu sentimentalismo para dizer que o teu ranho aparenta ter uma cor difícil e individual. provoca espirros graves. tua existência imortal lida diretamente com o infinito, e ilimita, como ,coincidentemente, o 11

celso muniz said...

menos 11, menos. talvez 3, já sonolento e com outros sonhos para além da imortalidade. e obrigado, por ter dado a cara, mesmo anonimamente, à tapa.