gosto de devagar vagar as
noites no escuro pela casa
vazia
o silêncio em banho-maria
ronrona aos gatos
espalhados cômodos a
dentro, aveludando a
situação confortavelmente
cujo brilho contrasta ton sur ton
sem a companhia humana
todo e qualquer espaço é imenso
e não há censuras - para as mentes privilegiadas, sequer auto-censura, que
não é lá muito o meu caso, dizem os gatos com seus olhares "de profundis"
sem ecas, pego-me a assoar o nariz, muco à distância, longe da irritação da
rinite, onde o fungado é quase disforme ronronado, de outros tecidos,
precedendo o trajeto da "ranheta" rumo ao chão de mosaicos,
assaz quase soar de trombeta
gosto também, mas não me lambo, nem me lambuzo, apenas assoo e ressoo
e gosto porque isso é matéria viva, que me faz gostar de saber que serei imortal
e gosto mais ainda porque sabedor que não fiz nada de imemorial - não escrevi
livros, não fiz grandes feitos - apenas existi, existo, e existirei mil anos à fora
ainda que seja à forra(uma náutica vingança?) mesmo que como muco, assim
como a vida que seja átimo de voo entre o assoo e o mosaico
e mesmo que ninguém o saiba - da minha imortalidade, e da minha fungada -
sei que existi, existo e existirei, enquanto ranho da existência
que, sabidamente, só os gatos sabem contemplar sem sobressaltos
2 comments:
não dou liberdade pra minha alma contextualizar a tua poesia, admito a minha incapacidade. reconheço a minha ignorância no quesito da alma, inclusive. a minha presença raramente surge em alguma coisa.
a analogia excêntrica, a personalidade das palavras e a agradável ausência da rigidez das maiúsculas torna a leitura do seu blog, desde o início do meu acompanhamento curioso, um tapa.
uma verdadeira surra no meu ideal de quietude observadora
o ideal quis feriado. devo aproveitar o meu sentimentalismo para dizer que o teu ranho aparenta ter uma cor difícil e individual. provoca espirros graves. tua existência imortal lida diretamente com o infinito, e ilimita, como ,coincidentemente, o 11
menos 11, menos. talvez 3, já sonolento e com outros sonhos para além da imortalidade. e obrigado, por ter dado a cara, mesmo anonimamente, à tapa.
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