sob lacre de embalagem catita de iogurte sabor-nem-sim-nem-não, deparo-me com o seguinte texto: "sabia que os intestinos tem cem milhões de neurônios? e que por isso são chamados de o segundo cérebro"?
minha nossa! - intervalo para dizer que chapei de imediato e não, não me caguei, eu disse chapei - esta informação mudou a minha percepção da vida.
já tinha uma certa desconfiança de que para fazer merda era necessário um certo esforço e uma refinada elaboração ao contrário do que possa parecer de que fazer merda é fácil, tamanha quantidade e, sim senhor, falta de qualidade. isto posto, passamos a ter o conhecimento de que não devemos pensar que produzir merda é algo assim que se faça sem compromisso e concentração. não senhor. já sabemos agora que exige muito neurônio e um longo caminho, o que antes aprendíamos ainda na escola frequentada de calças curtas.
a minha visão de mundo - a tal da weltanschauung, diria eu,utilizando,creio nem uma fração incapaz de melar a cueca dos tais neurônios - metamorfoseia-se agora de forma quase radical. tive uma cólica dos sentidos. creio que devo fazer uma mea culpa por ter despejado tantos impropérios em todos aqueles que julguei produzir merda, seja na minha atividade - jornalismo e publicidade, resumidamente - seja naqueles campos em que meto o bedelho e, consequentemente, onde também escapole, de vez em quando, alguma diarreia para além da verbal/conceitual.
se levasse ao pé da letra, em vez do desprezo, teria agora o respeito; em vez do dar de ombros, eis o ombro amigo; em vez da implacável mania de assepsia estética, a aposentadoria definitiva dos conceitos rebuscados de equilíbrio, proporcionalidade e harmonia, enfim da formação do bom-gosto. tudo em nome a veneração dos tais cem milhões de neurônios confirmados e confinados à tal produção de elemento tão culturalmente importante e que pode ser visto, ouvido, sentido, comido ou estocado, neste brasil onde certamente, por baixo, são cerca de duzentos milhões de cérebros(imagine isto multiplicado pela quantidade de neurônios do intestino) a consumir/produzir/consumir, uma infinidade de merda tal a começar do tal iogurte.
mas como não levarei ao pé da letra - nem fodendo - adeus iogurte; com sua produção de falsa cultura lacto-bacilar, cuja única função é coibir ou embromar a percepção do que vem depois da abertura da embalagem: uma quantidade de conservantes, espessantes, e demais co-atuantes que ao fim e ao cabo acabam por dar um nó em nossos neurônios. os tais e os demais.
que venha então, e salve, a coalhada caseira. sem sustos e sem embalagens subliminares. sem esquecer do detalhe, de que tem de ser feita do leite produzido no estábulo ou vacaria, de vacas que pastam sem hormônios, que matam moscas com chibatadas de quebrar munhecas e que vivem e nos dão a consciência e consistência de um mundo que, este sim, torna-se-á mais saudável na medida em que aprendemos consistentemente que merda é merda. e que seu cheiro, tão peculiar e natural, assim o é, para que não engane ninguém. ao contrário do iogurte industrializado, onde cem milhões de neurônios são colocados ao serviço de engalobar 86 bilhões dos que pensam que tem cabeça ao consumir tal produto.
neste caso, toda a merda - a consumida e expelida - vem dai ou ai desemboca.
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