Friday, October 05, 2007

flagrante de quase adultério ou descasque esta manga

há dias que bem cedinho sigo para o trabalho.
quase madrugo, a tempo de dar bom dia aos guardas-noturnos que hoje menos soturnos, porém ainda de cacete e apito- insusportável - recebem a saudação com a nova nomeclatura que lhes cai como colete de vigilantes.
sem azáfamas de transeuntes, o velho jeg jipe de guerra, desliza macio pelo corpo de uma cidade sonolenta, num trajeto em que é inverso ao sentido coletivo. enquanto todos rumam ao centro, meu destino é na contra-mão, rumo ao sexto-sentido do quase subúrbio na disposiçao geografica do contra-fluxo do transito.
gosto desta sensação do cheiro de orvalho, dos vira-latas espreguiçando-se nas esquinas e gatos tardios correndo para a soneca da manhã. creio que a cidade acorda como se as bicicletas operárias que percorrem artérias prescutassem atalhos mais chegados e assim lhes fizessem cócegas que a fazem desemborcar.
cinco e uma nesga da matina a cidade é como uma mulher semi-desperta na casa que não é nossa. coxas a mostra, bicos dos seios sem a turgidez dos elevadores, vagina não retesada, relaxada a espera de cafuné e quem sabe uma penetração que não seja comandanda pela tesão do mijo. é quase entregue a quem, como eu, passa macio e sem pressa rumo a labuta que não me permite vê-la de outra maneira que não seja assim semi-desperta.
e assim, sol nascendo, vou chegando como se estivesse saindo de uma cidade que não me pertence mas que vou gozando assim, de fininho, enquando seus donos não veem.
a tarde da noite ou madrugada quando volto a sensação já não é a mesma. mas alguma coisa no ar me faz quase ver um piscado a combinar novos encontros madrugais.
eu gosto, ela também. minha mulher nem tanto. também sonolenta, reclama a cada manhã - mas já? fica mais um pouquinho, não posso, digo-lhe eu, tenho de ir trabalhar.
e lá vou eu saindo de uma e entrando noutra, onde curvas e quinas de concreto e maquiagem de aço, ainda novelam tufos de velhas mangueiras que aos olhos do tarado me convidam a uma boa chupada.
a chuva de fininho completa a paisagem de uma cidade de pernas abertas para quem a queira possuir e amar. mas é bom não abusar: principalmente quem tem uma outra cidade sempre por descobrir em casa.

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