não sei se chegarei a segunda linha
mais do que nunca, hoje, não tenho tempo
mas quem se importa?
se hoje não temos tempo para a segunda frase
menos ainda para ouvir a segunda faixa
não temos tempo para o segundo olhar
e, não se espante, para a segunda foda
quem se importaria com a falta de tempo para a segunda linha, se sequer chegou nela?
não temos tempo para ir ao banheiro
não temos tempo para passear com o cachorro
tampouco para passear de mãos dadas
menos ainda para cantarolar no banheiro
e comemos em pé, quem amamos, e o prato que gostamos
porque não temos tempo
de sentar e ver embevecidamente o tempo passar
e deitar e ver o sono nos elevar a contagem de estrelas dantes vistas
não temos tempo de fazer direito as contas
tempo de colar maravilhas despedaçadas
do cordão partido
pela falta de tempo nas coisas somadas
de tempos em tempos
fazer o noves fora nada
nada de tempo para o que está dentro
ou para o que ficou de fora
não temos tempo de perceber
o quão estamos, ai sim, por fora
tão dentro nesta correria em busca do tempo a não perder
quando já o perdemos no início desta corrida
não temos tempo de ter tempo
de ouvir o tempo
de falar com o tempo
de viver o tempo
já não temos tempo de dar tempo ao tempo
é, acho que vou dar um tempo
mas antes, ironias do tempo, vejo-me lépido mas nada fagueiro
em maratonas de coisas por fazer
justamente eu que sempre vivi a vida em sprints nos cem metros a cada esquina(do tempo)
mesmo que eu saiba que não temos mais tempo
tento atemporalizar-me
ainda que finito seja o tempo
segundo as leis do mesmo
que nós dá o que passa rápido
para tomá-lo devagar
com ares de triturador
o tempo, sussurra-me baixinho, anda sem tempo até para isso
e então não perde tempo
com o toma lá dá cá que tentamos
surripiar do tempo
como se ele não soubesse
que nunca tivemos sequer o achado do tempo
quanto mais o perdido
que sempre esteve rachado
pelo machado
do tempo lenhador
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