sequer quero a lembrança do teu olho meloso, e doente, como se fosse um dente arrancado a boca que não mais me mastiga;
de tão choroso, que sequer consegue gozar a remela de uma noite de sono que não seja perdida em soluços, e dez mil vezes despedidas;
estou farto de tanta saudade, de tantas reminiscências, de tanta lembrança do que fui e do que já foi, e daquelas declarações de amor eterno, e de que não há espaço para outro em sua vida;
larguei o violão, encostei a guitarra, chutei o piano, e o balde,
saquei da navalha e cortei a tua mão, e o teu braço agarrado a minha perna;
e para o espanto da vizinhança não havia sangue nem veias;
já estava tudo tão seco que sequer servia como adubo para um novo amor;
sopro então a bainha da navalha e faço música que é só para isso que servem os amores perdidos, sejam, banidos ou não;
vais dizer que sou cruel, mas como é bom andar e cantar sem ter de arrastar um corpo que não se quer mais, se calhar nem o meu nem o teu;
findou, pronto, acabei de trocar a pele e salvar o teu pescoço; prova maior de amor não haverá.
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