bom, não acredito muito, no quesito longevidade, mas espero que se chegar aos 89 anos seja uma pessoa só. no sentido lato e estrito.
não serei mais ou menos triste por isso. não sou afeito a estas definições amargas da solidão na velhice: só é só e somente só quem não aprende que a vida é solidão delegada que assim é vivida justamente por não deixar-se ser um só). por isso, quero conservar-me inteiro, e de trincas apenas as que os anos terão e irão causar, sem que com isso queira dizer que fui um rochedo que jamais tremelicou.
acontece que num mundo que tudo e a todos muda, e que cobra a mudança como uma coerência benfazeja - enquanto a não mudança é vista como pura e burra teimosia - creio que haja algo de muito bom em não mudar, caso contrário não estariam todos incentivando mudanças à torto e a direito. sempre escudados na peremptória frase do "muda para melhor", que é a falácia na qual só os arrivistas acreditam - enquanto tudo a sua volta vai mudando copiosamente inclusive a sua maneira de ver o mundo, principalmente por conta da inevitável falência dos sentidos, assim espero, e não por mudanças do ponto de vista político e existencial, tais como renunciar a ser de esquerda, por que a esquerda esta na merda, ou aderir a direita porque é mais hoje "politicamente correto" no convívio social(eu não aconselharia você a ir a uma churrascaria e em alto e bom som declarar-se socialista - em compensação se disser que é socialista cristão ou de qualquer uma destas modalidades eleiçoeiras oportunistas não mais lhe enfiarão a calabresa cu a dentro e é bem possível que lhe paguem a sobremesa(a calabresa cu a dentro é exclusiva dos socialistas à rigor;)
isto posto, ser um só e estar um só é cada dia mais um privilégio que poucos aprendem a absorver e desfrutar, num mundo de efervescências tão consistentes quando suco em pó e onde as redes sociais revelam o homem na sua estupidez social e o quão rasteiro ele tende a ser quando a histeria da mudança esconde a mais importante - jamais feita - e revela a torpeza de todas as outras. tudo sempre na base das frases do tipo "a natureza ensina a mudar" ou só os tolos não mudam de ideia". parece-me que a natureza, pelo menos hoje em boa parte, foi estuprada a mudar por muita gente que hoje já começa - por medo ou de novo por oportunismo econômico - a querela imutável no sentido de não esgotamento de seus recursos e do mau humor que se revela nas mudanças climáticas decretadas por quem mudou - interesses econômicos - nosso modo de vida.
a vida que é de um ser só e de um só ser, é tal e qual como sorver um vinho especial(a esmagadora maioria jamais viverá este momento) que leva um tempo enorme para assim o ser(e sem mudanças) para que desta forma, no exato momento em que ele começa a ser bebido e em cujo "néctar" reconhecemos o seu verdadeiro sentido, começa ali mesmo a se acabar, tal e qual como foi vivida uma vida de quem foi um só como única ela deveria vir a ser.
quem viver muitas vidas, certamente viveu muito mais a vida dos outros e não a sua. uma vida que se tornou assim por dizer uma vida de refrigerante, repleta de gases por dentro e por fora.
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