Thursday, June 12, 2014

sem cacos

gostar de quem não se conhece, até se entende. também pudera: é cada dia mais comum a sensação de proximidade. até mais do que isso: de intimidade, com aqueles que não conhecemos mas que vemos como ideais. ainda mais nestes tempos em que a vida digitalizada vai se tornando parte da nossa, na verdade vai tomando a nossa, vai esmagando a nossa, e passamos a sobreviver pelo nível de digitalização que conseguimos alcançar o que, caramba, é complicado, quando se fala de emoções primais. o vazio em nossas vidas é antagonicamente aumentado quanto mais o tentamos preencher pela via midiática. 

agora, o paroxismo disso tudo é : não gostar de quem não se conhece. ainda mais por ouvir dizer. só mesmo uma vida em desgosto profundo se queda a tanto por tão pouco. e se perde de tudo que poderia se transformar em vida de verdade pelo fato de continuar a gostar de um desconhecido midiático que também como desconhecido - uma coisa é o que se vê outra a que se enxerga - traria consigo todas as possibilidades de horror que atribuímos a outros pelo nosso desconhecimento ou conhecimento emprestado( e a que juros, a que que juros!) desgostamos horrorosa e cruelmente, impelidos pelo próprio horror que hoje nos habita, e se apossa, impelidos pela mídia de cada dia que nos transforma a cada segundo que passa em pessoas adoráveis mais que detestaríamos conhecer a fundo. não é à toa que hoje a maioria não gosta nem de si mesmo quanto mais dos outros. 

chegamos a um ponto que quanto mais conhecemos uns aos outros preferimos gostar do "desconhecido"( e muita gente não se toca disso) que nos permite acessá-lo como ele se apresenta, de forma muito estudada para nós. e não como nem ele pensa que é. 

gosto mais de todo aquele que se deixa conhecer diante do "espelho"; e que descobre que não era bem isso que imaginava. e que se resolve bem com isto e não como o espelho partido dos outros.

des/conhecidos digitais, sempre pela metade ou terço que mais lhe convém terminam por ser um desgosto ao gosto do gostar a quem ainda não se conhece sequer o que gosta em si mesmo.

  

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