Saturday, August 26, 2006

barra circular

ainda dias de maio. uma bicicleta pendurada na parede alta da garage. uma criança dependurada na promessa do pai: sua será ao final do ano. comprada agora pra aproveitar preço ou pra aproveitar mais esta oportunidade para torturar o garoto?
mais dias depois agachados junto ao canteiro:
— acertas quanto tomates há no tomateiro e desço a bicicleta agora.
— três pedala o menino. — seis atropela o pai, e mostra matreiro pequeninos tomates da discórdia, bem escondidinhos aos olhares de ânsia do menino entalado por tomates verdes.
quase sufocado recebe a apnéia: — também se acertasses eu não iria descer mesmo. naquela só andas no fim do ano, e finzinho mesmo do dia 31, que se já for de noite, nem isso.
era maio e até os dezembros do fim da vida, odiou o pai mais do que os tomates.

3 comments:

Alex Camilo said...

Eu tive uma barra circular, foi minha primeira e ultima bicicleta, eu tinha 15 anos. Meu pai me deu a dita cuja para eu ir pedalando para o meu primeiro emprego. Vendia-a aos 16 e saí de casa pela primeira vez, não aguentava mais olhar pra cara dele, meu pai, ainda não aguento...

Um abraço

Anonymous said...

bom o texto..já pensou escrever mais ficções? um décimo primeiro blog..hein?

um abraço

celso muniz said...

erico: vou tomar como verissimo seu comentário e escrever mais realidades que soam à ficção, aqui mesmo no misterwalk.
muito obrigado pelo comentário. e assim sendo, sinta-se um pouco responsável pelos próximos.