Friday, October 25, 2024

santo antônio quaresma dos pitis ou amigo é pra essas coisas

longe da visão romântica do mundo - que nos dilacera e pode até matar os imberbes - a amizade tem seus próprios caminhos. e não são doces ou parafraseando a rapadura, amizade é doce mas não é mole não. por isso digo que para preservar as boas amizades ( porque valeria a pena preservar algo que não é bom ? ) deve-se manter uma certa distância, que não pode ser medida só em quilômetros. a convivência mata o que há de bom. muito mais que a distância. que de primeira nos parece terrível mas é o anticorpo salvador da pátria tantas e tantas vezes. estou numa idade que a geração antecessora ( nascida cerca de dez anos atrás está indo embora de mala e cuia ) e quem tem 70 e viveu os 70 - a menos que tenha se tornado um terraplanista - sabe que o the dream is over pode estar está na próxima previsão do tempo do jornal nacional. e evidente que tem de ser ranzinza e ainda combativo a este depositário fecal que se tornou o mundo e a vida hoje. nada tudo a reclamar. amigos, não os tive muitos. aliás, tenho muitas reservas a quem se diz dono de muitas amizades. e não é inveja ou qualquer sentimento barato. é que amizade mesmo ( sim, é clichezão)  é mosca branca de olho azul, cauda de pavão e ferrão semi- domesticado - quem já teve um amigo que " não alisa ", sabe a picada  - e as imperfeitas é que nos são mais caras, porque espelham o quão duro é ser demasiadamente humano . pessoalmente, julgo, com total isenção e parcimônia, que não sou um sujeito fácil, como algumas vezes me traduzi " easy like sunday morning ", antes de aprender e ter motivos para detestar o domingo, dia miserável pra se perder amizades tênues. por isso, me ter como amigo, se não é lá um presente dos deuses também ter-me na lista das amizades não é nenhuma expiação dos pecados. dentre os amigos que se foram e alguns sem que pudesse dizer como os tinha como amigos, já não resta quase ninguém. mas estão ali ao lado, no quarto da memória, vestindo-se para sairmos juntos. dos vivos ou seria vivo, santo antônio quaresma dos pitis é o mais longevo, gentil, amoroso mas que algumas vezes deixa-me" com vontade de socá-lo" ( sensação e não sentimento pra quem não sabe a diferença ) que não é incomum aos amigos de verdade. mas não por ele só. idiossincrasias minhas, incluindo a reduzidíssima paciência para com as gentes, atestada na minha jornada cada vez mais aprofundada de ermitão urbano e inabilidade social cultivada ideologicamente, indicam que demasiada proximidade pode ser perigoso para ambas as partes. ainda bem que não o vejo há cerca de vinte e tantos anos, muito embora nunca estivéssemos tão próximos como hoje, ao ponto de planejarmos estar fisicamente juntos em breve e por breve período por força das circunstâncias e também pelo sim pelo não. para o entendimento de quem não tem uma amizade que já passou por episódios multifacetados, de riso, raiva, emotividade, deslumbramento, agonia e êxtase, ainda mais entre pessoas tão diferentes mas agarradas pelo amor a arte e a artisticidade de ambos, cada qual com sua expressão, pode parecer estranho. mas a amizade verdadeira é mesmo muito estranha. é um monólito de alabastro, fincado tanto no deserto como no mar, que funciona como um farol dos vulcões interiores, de seres que lutam para serem felizes sem abrir mão da sua interioridade que não escondem. muito pelo contrário, escancaram as vezes sem medir consequências,  que é ato de quem vive de verdade e tem muita coragem e não como classifica o sistema como porra louca. sem nenhum paradoxo, o que mais me irrita no quaresma, é o que mais eu respeito e reverencio: seus pitis. nem sempre consequentes é verdade mas de intensidade tamanha, que nunca forjados ou acting de qualquer natureza. a sua sensibilidade para com a vida e o modo que escolheu para expressá-la com arte, tendo como veículo a fotografia, os colocam como muito mais que chiliques idiossincráticos. é puro fluido da anima que extrapola os canais condutores num grito antes do artista mas do menino homem que grita dizendo estou aqui e não aceito o que querem para mim que não quero. esquisitice de artista, todo artista não é assim ( a velha estigmatização dos sistema aos que pensam contra )? não me parece. são coisas da vida,  que só velhos amigos, que recusam a mediocridade - das amizades inclusive - sabem valor e significado. então, como diria o bardo, enquanto houver pitis, haverá esperança e amizade.

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