Sunday, December 31, 2017

de uma tragada só

se ainda fumasse, diria que vou ali comprar cigarros, e desapareceria para sempre.

ficam pra trás os amores, os projetos semi-conclusos, as cagadas e os acertos, os cortes e os esparadrapos, o éter e o vinho, as maçãs e as jacas, os jipes e as pirambeiras. mas dívidas não, que não as tenho. nada mais me aflige. mas peraí, uma exceção: os cães e gatos dos quais sou dependente, ao contrário do que dizem eles ser.

pensando bem, fica para o ano que vem.

até o último cão ou gato. então, ano velho que já morreu, ai vou eu remorrer de novo.

Friday, December 29, 2017

aos amantes

magritte - the lovers


bom, creio que o amor é algo mais ou menos assim. você só descobre que ele existe - falso ou verdadeiro - quando caem as máscaras. até lá, tudo é paixão.

Wednesday, December 27, 2017

aos olhos das crianças

  1. enquanto crianças, todos temos os olhos de gogh (pintura de 1888). mas crescemos, a grana turva nossas vistas, e perdemos o verdadeiro senso da realidade. pra continuar com seus olhos, o miserável gogh pagou um preço ainda mais alto do que os obtidos por suas telas.
  2. nós, relativizamos isto falando, claro, de dinheiro, afinal, um van gogh custa os olhos da cara.

    Saturday, December 23, 2017

    poemeto nas coxas


    umbigo de mulher é fonte! 
    descendo, para qualquer dos lados, espeleologia ou diga caving.
    subindo, é montanhismo. e nuca, cume com + nuvens q monte de vênus. 
    e ainda tem os olhos e a boca onde na face norte o beijo te assalta bem debaixo do teu nariz.
    e pimba! não segurou? num triz é o créu,lá embaixo o quente frio do calafrio, membro cabeça e corpo que retesa solta e aperta tal qual num adeus cheio de tesão.
    pra subir de novo? ab ovo? meia hora na base da gemada. bebido com clara e tudo, devidamente reforçado por um x-tudo.

    Tuesday, December 19, 2017

    sem motivo aparente


    de que adianta falar de motivos, às vezes basta um só, às vezes nem juntando todos. josé saramago

    Sunday, December 17, 2017

    in memorian

    parafraseando monet: você é a minha obsessão, meu divertimento e meu tormento de todos os dias (poupem suas cabecinhas. estou falando d´um cão meu).

    Friday, December 15, 2017

    "mãos de pianista"


                                   
                                            Terça Maior e Terça Aumentada

    - você tem mãos de pianista.

    não me lembro onde, nem me lembro quando, sequer me lembro quem.
    mas, lembro bem da frase, da sonoridade daquela voz delicada, quase um acorde dissonante, de tudo que estava acostumado a ouvir, quando, raro, alguém me dizia algo agradável. soou diferente. um quase elogio, uma declaração de interesse, uma nota de paixão? não sei; mas tocou-me com uma terça diminuta, muito embora me sentisse tentado a chamar de terça aumentada, aquelas mãos delicadamente quentes sobre as minhas que ao serem escaneadas portaram-se como mãos tolas e perdidas, que não deram ouvidos aquela predição ou seria perdição?  - você tem mãos de pianista.

    só posso dizer que tentei, honestamente, tentei. muito. 



    Monday, December 11, 2017

    a fechadura

    abrupto
    deslumbrantemente lua
    postou-se rua a minha frente
    num bate pronto
    foi-se minha inocência 
    naquele impulso de porta adentro
    porta a fora

    quase saída do aquário
    nua e crua 
    colina e mata
    pequena lua crescente
    como se não bastasse
    aquela cortina de plástico transparente
    agora via láctea de espuma e mormaço
    ainda com os cabelos por molhar
    que imagem por delirar
    sendo eu o peixe fora d´água

    atemporal instante
    onde partículas e o todo
    fulguravam arco-iris
    intra e inter estelar
    no distante momento fugidio
    cena de êxtase e compêndio de verosimilhanças
    daquelas fora das estantes
    no instante onde o homem que habita a criança
    se torna estático
    ainda assim latejando por conta da mesma estática
    coração e penis quase pulando pra fora do pescoço
    agora quase catapulta
    da minha entrada triunfal
    ainda que destrambelhada
    no banheiro com a mão no pau

    percebendo meu atônito embaraço
    saiu-se ela com a aquarela
    " não te preocupes: ver não tira pedaço "

    mas não foi bem assim a história
    de tanto ver e não ver tudo
    aos pedaços 
    foi bem assim guardada na memória
    dela sequer arranhões 
    mas em mim
    fiquei resto de vida
    com aquele oco faltando
    quebra-cabeças que o tempo
    recusou-se a completar
    até o onde me lembro e até o aonde aquilo tudo foi parar

    e tudo
    por conta e cota
    de uma fechadura 
    cansada de aprisionar-se em sua porta
    que entreabriu-se para a própria em si
    para quem quisesse entrar
    e nunca mais sair

    deu que vendo entreaberta 
    porta à dentro entrei
    e vi mais que azulejos
    e chuveiro fluindo
    vi outras portas entreabertas
    corpo nu
    pernas
    entre
    ventre
    pente
    seios
    abertos
    picos e bicos
    mas não para mim
    curumim

    susto e descuido
    em que te vi me vi
    cresci e não cresci
    apenas ora me dilato
    e murcho
    tanto que nem sei 
    se agora sou eu que não fecho direito a porta
    da qual arranquei 
    nudez da fechadura
    que me trancou por fora
    e me abriu por dentro 

    e assim
    não há uma vez sequer
    que não entre no banheiro
    que não me venha em vulto
    aquela sensação
    de trinco fora do lugar

    e da frase que ainda sussurras
    não sei se por malícia ou pudicícia
    nos meus ouvidos a ribombar
    " não se preocupes: ver não tira pedaços".











    Thursday, December 07, 2017

    uma tristeza infinita que nos desconsola até hoje

    para os humanos não é tão difícil superar a tristeza da perda.
    mas para o cão, que perde o seu melhor amigo, não haverá remédio.
    ei-lo, willie, exatamente no dia da morte de patton.


    há quem diga que patton foi assassinado, com a conivência de líderes americanos