Wednesday, August 28, 2024

do próprio umbigo

a arte me faz vivo

(e sei disso porque cada vez que me deparo com arte - muito mais do que com os artistas - meu corpo estremece e sou tomado pela emoção de sentir o belo em todas as suas formas até mesmo nas disformes)

não que eu seja propriamente artista
muito embora toda pessoa o seja
até que a sociedade o mate com sua burocracia formatadora de seres dormentemente rastejantes

restando aos que se salvam a loucura ou a manifestação artística autêntica que no fundo é uma espécie de loucura iluminada 
muito embora provenha de recônditos de escuridão que muito se assemelham a um vulcão

mas é diferente o universo do artista que não se deixa contaminar pela osmose do mercado

o verdadeiro artista
aquele que produz realmente arte
livre de conceitos definições e galerias
urra seu inconformismo em jorros
que mais parecem ressacas de morte
que explodem as paredes em vomitos de matéria viva

a arte que se domestica deixa de ser arte e se torna produto 

e produto não é arte
é adorno de prateleira 

por tanto muito difícil ser artista no capitalismo
não que seja fácil noutro istmo qualquer
mas sobreviver de arte
é figura de espírito 
não de bolso
são as regras do sistema 

o artista não é uma ilha
é um universo a parte
mas que não deixa de ser o universo
que cada vez mais somos formatados para não ver não ser não sentir

a vida sem arte nem de longe parece vida

mas como os mortos hão de perceber isto?

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