Saturday, December 23, 2023

pintando o presente

não porque seja natal - dar um presente no natal, para mim equivale a dar uma dedada em cristo ainda na cruz - e como calhou de só agora achar o exemplar que ilustra a postagem e que procurava há tempos, adquiri o exemplar, um pouco surrado mas íntegro, num sebo virtual sim senhor - o que deve sair incomum para alguns que acham que presente só valem os saídos das lojas em sacolas outdoor de marcas - para presentear alguém, que o merece, obviamente: por quê dar presente a quem não merece, por força da imposição de datas, equivale a presente de judas. este, vai logo depois da virada do ano, para fugir deste tempo de dedadas e de vendilhões de gorro. presentes, no meu parco entendimento idiossincrático, excêntrico é o que eufemisticamente dizem, só valem fora das datas que o comércio estabelece como oficiais e que "de brinde" estabelece  também como sanção praticamente excomunhão a quem não der. assim, não dou presentes no natal, aniversários, seja do que for, nascimentos, batismo, dia dos namorados, criança, mãe, vó, nem da paz mundial. presente pra mim, é antecipar o futuro e resgatar o passado, na alegria de no instante presente lembrar de alguém e de certa forma demonstrar que estamos presentes no seu infortúnio ou no seu júbilo para além do presente. alguns presentes fazem sorrir, outros chorar. penso que o presente ideal faria alguém chorar de rir ou não. mas talvez pela pouca habilidade satisfaço-me, ego à parte, se o presenteado chorar ou rir. e quiçá não seja porque achou o "presente de chorar ou rir" se é que me entendem. lembrança tida, busquei um livro, por presente. a pessoa é "mais velha" e por certo não cultiva a estupidez, a idiotia, a ignorância, da geração que pensa lacrar quando diz que mais de duas linhas é textão. não lacra mas de certa forma traz na testa o lacre de analfabeto funcional, algo que neste país dá mais do que "xuxu na serra". e nada de autores " besta sellers" que este tipo de literatura nem pra papel higiênico serve. mas um autor local mas universal : canta a tua aldeia e serás universal, já dizia um certo tolstoy - quase esquecido a não ser fora dos círculos bem restritos que gostam de textão. e os textos de hermilo, se não o presente, em certas passagens fazem chorar de rir sem abrir mão da seriedade com que agrava sua literatura que seriedade não é sisudice. assim, vindo de um sebo - instituição que nos alivia o bolso (mas nem sempre) e o espírito, possibilitando encontrar velhos amigos (se você não considera os livros seus amigos você está cercado de falsos amigos) - que julgavamos desaparecidos, isso por sí só um grande presente para mim também, que é boa está sensação de presentear não o que a gente gosta mas algo que não desgoste presenteado e presenteador. não quero tecer loas a mim próprio: mas creio que a escolha foi boa. assim, contribuo de certa forma para que os sebos continuem possibilitando encontros; e ao escolher um autor cuja obra merece bem mais reedições possibilito novos encontros, novas amizades e oxalá eflúvios a quem o ler. se for gostado se fará eterno. mesmo que não passe do instante do recebimento que o presente nada mais é do que isto: vida em átimo.


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