Saturday, September 22, 2007

parangolé

o homem segura duas cadeiras de balanço infantis em cada braço. outra leva-a pendurada no pescoço. a última, do tipo cavalinho-sebra, banco longo sem espaldar, traz encaixada na cabeça tal e qual um chapéu de burro ainda que sendo cavalinho infantil.

a temperatura é quente, e tem-se a sensação maior de sofrimento, abandono, e calor, já que passa frente a uma séria de oficinas que assistem a sua passagem sem sequer se ouvir uma buzina.

o homem carrega o cavalinho na cabeça e seu rosto desolado, provavelmente por nenhuma venda, lembra-me, e desperta-me, exatamente a mesma sensação que sinto quando vejo os cavalos, éguas, mulas e jegues presos a seu destino não natural de morrer de peso e cansaço sem que ninguém lhes ouça, prese atenção ou cuide.

assim como o homem que vende cadeirinhas que poderiam estar sendo montadas pelos seus próprios netos sem o peso da necessidade da venda escrava, tal como os animais que deveriam estar no campo ao pasto sentindo nas costas apenas o peso das suas crinas.

homens e animais sujeitados a trabalhos forçados são sempre uma aberração da natureza deturpada pelos nossos erros. e que ainda hoje são vistos pela maioria como estado natural da nossa civilização, com seus costumes de jogar sobre o lombo de animais e homens reduzidos a igual condição, que mesmo no brinquedo de madeira que servirá de brincadeira não deixa de ser produto de homens e cavalos domados a duras penas de renunciar a vida inerente a sua própria condição que não se sabe onde escrito acabaria sendo esta.

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