Sunday, March 10, 2024

hapiness is warm gun

talvez o que melhor defina o humano seja a constatação de que nós somos seres destinados à busca. e entre as buscas, seja pelo desconhecido, seja pela fama, pelo dinheiro, pelo sexo, pelo poder, a mais buscada, incessantemente, é a tal busca pela felicidade, que na maioria dos casos leva a infelicidade total. é certo que o humano, cujo poder de adaptação as mais terríveis tragédias, dores ou dilacerações é quase inacreditável, é absolutamente desprovido da capacidade de ser feliz e sentir-se bem com isto. haja paradoxo. e se assim não fosse não teríamos o quadro histórico do seu vagar em busca da felicidade. do início dos tempos a atualidade verifica-se de maneira constante sua assinatura da incapacidade de ser feliz. o preenchimento do buraco do ser que não consegue ser feliz cabe uma centena de titanics dentro - e toda sorte de gadgets, que vão de ferraris a ilhas no pacífico, aos horrores de dubai, incluindo os mixurucas bifes com ouro (argh) - já o ser feliz, não tem buracos, além óbvio dos fisiológicos. tem a pele lisa, quase não tem cravos. sorrisos cativantes com ou sem dentes, que contagiam ao tempo que incomodam os infelizes como uma picada de mosquito renitente. diante de tanta simplicidade - o ser complexo e sofisticado é o contraditório da ideia de felicidade - nos fazem catituar onde o nexo desta alegria oriunda da felicidade em seres que também geralmente não tem apegos materiais dignos de registro. aliás, a felicidade, gosta de se esconder no anonimato da miséria o que não significa que basta ser miserável para ser feliz ao tempo que estabelece que não há lei - embora tentem - que determine que o miserável não possa ser feliz. se há a miséria da filosofia por que não a miséria da felicidade? para contrapor a miséria da infelicidade que aflige ainda mais abastados, porque estes são mais frágeis as adversidades por mais que a sua abundância material dê um aparato que não é garantia. se a felicidade é um algodão doce, o tal efêmero que se desmancha no ar, o ser que consegue ser feliz é um caçador de borboletas, que não as espreme dentro de um livro ou em mostruários empolados. apenas faz o arco do movimento de pega como se estivesse tentando pegar o arco-iris com puçá sendo neste movimento o próprio. e cujo sorriso nunca é frustante com a falha, por vezes mais radiante, ainda que contido, do que com a alegria da captura, que se catapulta quando a solta. já o infeliz é praticante de safari. pendura cabeças de rinoceronte, leões e gamos na parede para eternizar a sua sina. o lugar comum de que a felicidade está nas coisas mais simples é o lugar incomum que poucos acham já que as coisas para o infeliz tem de estar sempre em seu lugar. a felicidade faz uma bagunça em nossas vidas. deve ser por isso que apesar da procura desperdiçamos várias oportunidades querendo alça-las a prateleiras. decididamente lá ela não cabe nem lá ela se acha. se a felicidade não passa de uma ilusão que a realidade macera. lamentamos informar que a realidade também o é, espécie de ilusão. e que a felicidade não máscara a realidade, como somos induzidos a pensar, ela a desmascara. por isso é tão temida por muitos (inclusive pelos mantenedores do poder) e apreciada por tão poucos. a felicidade é uma arma quente já dizia o cantor.

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