Saturday, December 27, 2008

reveillon de mim mesmo ou good-bye stranger

de tempos em tempos deveria ser obrigatório: separar-mo-nos de nós mesmos por um tempo. nada de visitas ao espelho. nada de referências amigáveis, ou não, que nos possibilitam ir acompanhando o trabalho do tempo em nossos rostos, em nossos corpos. em nossos sinais particulares de existência, para além do conto da carochinha de que há gente para qual o tempo não passa.

aparências, longe delas por um tempo, teríamos, enfim, um encontro com a verdade que começa a granular-se a partir dos quarenta para alguns, outros mais cedo do que tarde, mas nunca, nunca.

após este período, digamos sabático, de nós mesmos com a nossa imagem, teríamos sim, um quadro de como realmente estamos bem diferente daquele(s) a quem vamos nos acostumando no dia-à-dia do espelho, que dilui mui lentamente a imagem com a qual convenciona-se que gostaríamos de ser lembrados na maioria dos casos.

e ai, entenderíamos, a verdade - ou a falsidade - de quem não nos vê há muito tempo, e de seu tamanho espanto, que logo tentam consertar com disfarce que não cabe no tamanho do susto, ante o que o tempo fez do rosto que pensamos existir, e que de há muito não está mais ali, enganados que somos pelo espelho que nos dilui aos pouquinhos, como ele mesmo ao sofrer ação dos respingos da pasta de dentes, cuja abrasiva espuma também colabora com o sorriso que sequer imaginamos rí de nós o tempo inteiro ao tempo que nos derrete a moldura.

de volta deste tempo, tomaríamos o mesmo susto - que entre tantos há de ser nalgum se soslaio positivo como sinal dos tempos - que tomam aqueles que não nos vêem há muito e que que teatralizam variações repetidas pelo tempo como o " nossa como você está bem; o tempo para você não passa", enquanto dizem para elas próprias à boca chiusa ou mais tarde em conversas pra fora do tempo - minha nossa como ele, ou ela, está acabado, ou sibilam sorrisos de quase vingaça "pensou que ia ser jovem a vida inteira? ", confissões que muito provavelmente você trocará consigo mesmo reproduzindo as mesmas reações em cadeia.

quanto a mim, desapareço e volto de tempos em tempos. e a cada vez sou outro no espelho, bem diferente do bem acabado que ironicamente julgava ser, esquecendo a ironia agulhada da expressão bem acabado.

depois de tantas idas e vindas, em tempos desencontrados marcados por pausas síncopadas, um rosto em mutação me diz que o importante mesmo não é estar mal ou bem: e sim não estar acabado. o resto vai se compondo. mesmo quando se decompôe em partes ou no todo de um rosto que imaginamos conhecer ou desconhecer, tal como a imagem superficial que o associa em contabilidade adulterada de rugas e pés de galinha contabilizadas em perdas ou ganhos a depender das contas apropriadas.

dando um tempo descobre-se que este rosto desaparece quando se constata que o tempo apenas nos emprestou, talvez até mesmo por engano, disponibilizando-nos imagem que não é, nem nunca foi, nossa, apenas para tomá-la de volta, quando mais nos apegamos a ela que se vai sem sequer nos dar direito a um goodbye acalentado.

Now playing: américa - goodbye via FoxyTunes

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